Relativização da ética: quando é no meu bolso, vale flexibilizar
Antes de mais nada, esta nota não visa defender ninguém e reafirmo que sou apoiador do mercado regulado e que expurga sem reservas quem usa do setor para ocultar qualquer tipo de atividade ilícita.
Contextualizando o tema
As casas de apostas, que já são centenas, talvez milhares, começaram a operar as bets no Brasil a partir de 2018, quando foram legalizadas as apostas de quota fixa, ainda no governo Temer.
Por ainda não terem regulamentação, estas empresas optaram por hospedar suas operações em outros países e os serviços de apostas esportivas e de “jogos online” passaram a ser utilizados pelos brasileiros por meio da internet.
Como o mercado seguiu sem regulamentação até o final da carência trazida pela legislação federal do final de 2023, diversos influencers acabaram participando da divulgação de bets, sendo alguns inconsequentes e irresponsáveis ao usar o discurso de “dinheiro fácil”. E, para agravar, muitos deles estiveram envolvidos nos últimos anos em esquemas de lavagem de dinheiro e outros crimes, como é o caso dos que foram presos, tiveram os seus bens apreendidos e/ou suas contas bloqueadas nesta última operação e em outras anteriores.
Sobre o assunto, faço coro, com o Secretário de Prêmios e Apostas do Brasil, que disse em evento recente:“Precisamos separar o joio do trigo, separar quem é sério e quem não é”, e eu completo “temos que ser rígidos neste momento, pois temos a responsabilidade de impor as boas práticas e não permitir que o mercado sofra com aproveitadores que mais prejudicam o mercado do que ajudam”.
Com a posição de reguladores que ocupamos hoje, temos que acelerar para que as medidas de regulamentação entrem logo em vigor.
Operação Integration e a ética relativa
A operação “Integration” da Polícia Federal, ocorrida nas últimas semanas e que se desdobrou em 5 estados, bloqueando mais de R$ 2 bilhões de 50 pessoas e empresas, teve como principais alvos uma famosa advogada e influencer, além de proprietários de uma grande casa de apostas.
Os detalhes desta operação foram exibidos em um programa tradicional de domingo à noite de uma grande emissora de TV.
Mas é importante colocar que não há somente um ângulo para analisar o tema, sendo inclusive um princípio ético que relembra a máxima de nossos avós: Pau que bate em Chico, bate em Francisco.
A emissora – que divulgou veemente o caso neste domingo – se instalou como “juiz” e condenou previamente diversos envolvidos, e hoje divulgou nota, bem pequena, afirmando que vai continuar com os contratos publicitários da Casa de Apostas mencionada, alegando que não há nenhum motivo para deixar de exibir as propagandas contratadas.
Depois da denúncia do esquema, também com informações exclusivas, a emissora vai, vejam só, permanecer com o contrato multimilionário da casa de apostas citada e demais acusados por ela, contratos estes que muito provavelmente foram pagos com os mesmos meios de pagamento que naquele dia, utilizando-se de seu juízo de valor questionável, ela fez questão de condenar.
Estranha essa “ética relativa” que julga os outros, mas é flexível quando o recurso vem para o próprio bolso.
(*) Daniel Romanowski é Diretor-presidente da Lottopar. O artigo foi veiculado no Linkedin.
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